Aqui não há excessos, muito pelo contrário. Não há grandes dimensões ou qualquer dramaticidade. As fotografias de Helena se valem do que é sutil – do que não se percebe facilmente, do que é delicado e apurado –, são feitas de contrastes suaves e das pequenas medidas que convocam o olhar próximo e íntimo. Na composição das imagens, só há aquilo que resiste.
É munida dessa delicadeza que Helena pede passagem a um mundo de histeria, voracidade, polaridades e tensões intensificadas. Helena, com seu silêncio, abre uma fenda na muralha dos excessos. Mas, tão anestesiados estamos pelo exagero de informação e de desinformação, que é difícil parar para olhar. Tão autorreferentes nos tornamos, que é difícil sair de nossa própria interioridade. Valorizamos de tal maneira a positividade – e, consequentemente, aniquilamos toda negatividade da vida –, que é difícil pulsarmos verdadeiramente diante do que quer que seja. Nesse mundo, a vida poética nos é interditada.
Helena é um ser que resiste. Relacionando-se com o que é cotidiano e ordinário, acessa aquilo que é transcendente. Com suas imagens, ela nos conduz. Nada, em suas fotografias, é aquilo que, em um primeiro momento, parece ser. As imagens são invólucros: a matéria fotográfica serve, aqui, para dar acesso àquilo de imaterial que ela nos convida a ver.
Do outro lado da fenda, estão o torpor, a despedida, o pulso, o florescer, a eterna transformação da matéria, a vida e suas muitas mortes. A morte sem horror. A sombra, o inverso. A negatividade, que é a força viva da vida*. Assim, a delicadeza de Helena, como que oposta a si mesma, fere. Ela é capaz de nos esvaziar e, diante desse vazio, nos encantar. Deixemos, ao menos por alguns minutos, que o mundo superlativo e sua aridez se desmanchem em fluido sem sentido, aquilo que de fato são.
Marcelo Greco, sobre o trabalho “Rios em flor”, de Helena Rios
* Byung-Chul Han. A salvação do belo
imagens Helena Rios