“Efêmera é uma balada sobre a transição, em que a artista nos pega no colo e embala em seus braços antes de nos deitar sobre as águas incertas e misteriosas que é o amor maternal” Irmina Walczak


A imagem íntima

(…) relate suas mágoas e seus desejos, seus pensamentos passageiros, sua fé em qualquer beleza – relate tudo isto com íntima e humilde sinceridade. Utilize, para se exprimir, as coisas de seu ambiente, as imagens de seus sonhos e os objetos de suas lembranças.

Rainer Maria Rilke, Cartas a um jovem poeta 

A imagem, desde a impressão da palma da mão nas paredes de uma caverna, é uma forma de construção do entendimento do sujeito. No campo da autoria, quando criamos uma imagem – de nós mesmos ou de uma paisagem –, estamos tentando expressar quem somos e como nos relacionamos com o mundo. Nesse momento, o inconsciente também exerce um papel fundamental. 

Isso não significa dizer que conseguimos, a todo o instante, alcançar o objetivo. Criar imagens significativas de nossa identidade e da forma como entendemos o mundo é um grande desafio. Estamos sempre em território nebuloso, impreciso e que exige muito esforço, dedicação e sinceridade com nós mesmos. 

No contexto das imagens que percorrem a história da civilização, a fotografia ocupa papel peculiar. Desde seu início, ela vive o dilema de retratar a realidade ou criar a representação da realidade interna do autor. Parece que, em pleno século XXI, finalmente conseguimos aceitar e entender que criamos ficção com a fotografia. O mundo exterior é um palco cênico para nosso mundo interior. Esse conflito impiedoso entre ficção/realidade é, parece-me, um jogo particular da fotografia como linguagem da expressão humana. A imagem poética é o resultado desse embate. 

Quando, nesse processo, tratamos de imagens que são do nosso universo íntimo, as complexidades ficam ainda mais intensas. Aqui o referente é alguém ou um lugar que nos mobiliza emocionalmente. Temos os afetos e as emoções que nos induzem à contradição e, muitas vezes, ao equívoco frente escolhas e decisões que deveriam ser meramente do campo expressivo artístico. Transformar nossos entes queridos em personagens de um fazer poético não é tarefa fácil. 

O livro Efêmera transitou, em seu processo de criação, pela linha tênue e nebulosa que separa o discurso pessoal – e nem por isso menos importante – do discurso universal que se projeta atingindo de forma distinta e infinita os outros. A autora teve a paciência e a humildade de apresentar seu trabalho, ouvir críticas e, aos poucos, lapidar seu trabalho. Em sua busca, para além do relato de mãe, existe a luta de uma autora pela expressão poética.

De acordo com Paul Valéry, “O que chamamos ‘uma obra de arte’ é o resultado de uma ação cujo objetivo finito é provocar em alguém desenvolvimentos infinitos”. Buscamos, como autores, expressar-nos poeticamente e, por meio de nossa obra, criar uma ponte que permita o acesso a essa essência a outros indivíduos. O que vale, nessa busca, é a sinceridade e a humildade. Quando alcançamos o estado poético, o trabalho passa a acontecer além de nossa própria existência. 

Marcelo Greco, 2021


fotografias. Paula Brandão
projeto gráfico. rios.greco
digitalização e tratamento das imagens. Estúdio 321, São Paulo
textos. Irmina Walczak, Marcelo Greco
revisão dos textos. Sumaya Lima
tradução. Romulo Osthues
impressão e acabamento. IPSIS Gráfica e Editora, 2021
tiragem. 500 exemplares
ISBN. 978-65-89233-08-4
co-edição. rios.greco + Editora Origem

Impressão sobre papel Eurobulk 150gsm