“Ser mãe é dissolver-se. O bebê traz consigo, para dentro do ventre, todo o universo. O infinito ocupa tudo, depois rasga, dilacera para se acomodar. Nessa arrebentação, o corpo permanece – obediente, dedicado, embebido de prazer, adormecido no amor impiedoso do bebê. A alma se vai, expande, atinge lugares impensáveis, tempos impensáveis. Seu chamado, meu amor, não alcançava os abismos e as estrelas onde eu estava. Imagino sua solidão diante de minha ausente presença. A saudade que você sentia não tinha espaço algum em mim. A câmera era a sua maneira de estar ali. Suas imagens são gritos que tentam defender a delicadeza de nossa vida juntos. É brutal o chamado. Para a mãe, o chamado será sempre prematuro. Não se regressa num simples despertar. Não se regressa. Venho, outra, de minha implosão. Você, de seu exílio.”

Helena Rios


fotografias. Marcelo Greco
projeto gráfico. Helena Rios e Marcelo Greco
texto p.4. Helena Rios
texto p.74-77. Rubens Fernandes Junior
revisão e tradução dos textos. Luciana Dutra, Chris McGowan
produção gráfica. Heloisa Vasconcellos
digitalização e tratamento de imagens. Estúdio 321
tiragem 1000 cópias
20 x 25cm | 48 páginas
publicação. Vento leste + rios.greco