Resolvemos refletir, no breve espaço desse texto, sobre uma questão que vem nos cutucando: vivemos uma crise das formas na fotografia? Para iniciar essa reflexão, precisamos, antes, falar sobre essas formas, e esse será o assunto desse primeiro texto. Semana que vem traremos a segunda parte dessa investigação.

imagem Machiel Botman

A fotografia expressiva se enquadra naquilo que chamamos artes visuais, um conceito muito amplo, mas bem claro no que diz respeito a uma questão: abrange linguagens expressivas que têm a visão como principal ferramenta de apreensão. Ou seja, a visualidade de uma fotografia é, então, o suporte de seu conteúdo. Em uma fotografia, é por meio daquilo que é visível que a expressão acontecerá. Outras linguagens também enquadradas nas artes visuais exploram mais de um sentido para transmitir seus conteúdos: o cinema usa também a audição, a escultura usa o tato, etc. A fotografia usufrui exclusivamente da visão.

A matéria visual de uma fotografia é feita, basicamente, de formas: linhas ou massas de luz, sombra ou cores, que formam figuras mais ou menos precisas, composições figurativas ou abstratas, símbolos. Isso quer dizer que é por meio das formas que o conteúdo de uma imagem se apresenta, seja ele qual for. Como espectadores, vemos, no primeiro momento, as formas de uma fotografia. São as formas que nos atraem – ou não –, e é por meio delas que entraremos em contato com o conteúdo ali estruturado.

Não nos referimos, nessa reflexão, a formalismos, a rigores ou regras quanto ao uso das formas. Estamos defendendo a ideia de que, em uma imagem, tudo é forma. Mesmo quando uma linguagem não é utilizada em sua condição pura (quando, por exemplo, vemos fotografias com intervenções de desenhos, pinturas, textos), continuam sendo as formas combinadas a reger o conteúdo.

Uma linguagem artística não é, e não deve mesmo ser, engessada. Acreditamos na pluralidade das linguagens, nas rupturas (sejam elas mutações internas de um movimento ou oposições entre diferentes movimentos), nas inovações, nas subversões da linguagem (a partir de seu domínio), na relação que as linguagens estabelecem com os contextos sócio, político e cultural do qual fazem parte. Portanto, acreditamos na fluidez das formas.

Semana que vem traremos nossas ideias sobre uma possível crise das formas na fotografia, que poderíamos chamar de supremacia dos temas sobre as formas. Se você tiver alguma colocação a esse respeito, ela será muito bem-vinda para alimentar nossa reflexão.

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Helena Rios e Marcelo Greco