“Somos vivos ou estamos vivos?
Se estar é transitório, por que dizemos ele está morto?
O primeiro e o último segundo têm algo em comum?
Como unir as duas pontas da vida? 
Qual a diferença entre ninho e casulo?
Se existe vida num embrião, por que o chamamos de embrionário?
Por que a luz cria estampas lindas e tão fugazes nas paredes?
Abismo também é paisagem?
Por que nossa própria imagem parece tão distante de quem somos? 
O que a memória nos conta é o que a vida queria dizer?
Onde se enterra a vida?
Quem desenha as curvas das paisagens?
O que fica quando a morte chega?
Quando não existir vida, existirá imagem?
Se sentimos quando estamos indo embora, por que não nos despedimos?
Se é a primeira vez que vejo essas imagens, por que elas falam tanto sobre mim?”

Juliana Monteiro para A Barca #3, 2022

imagem: livro de artista Exercícios para não existir, Juliana Monteiro, exemplar único, 2022

Vamos dedicar os e-mails desse mês de março ao projeto d’A Barca. Semana passada falamos sobre o processo de elaboração de uma narrativa com imagens de diferentes fotógrafos. Hoje vamos entrar em outro aspecto da edição: o diálogo entre fotografias e textos em uma mesma trama.

A Barca #3 é formada por imagens de 19 fotógrafos, dois textos da Juliana Monteiro e a transcrição de um poema concreto do Augusto de Campos. Primeiro, fizemos a sequência de imagens. Como contamos no e-mail da semana passada, cada autor apresentou ao grupo uma ou algumas fotografias e foi com esse material que construímos a publicação. Quando a narrativa já estava bem consolidada, enviamos o projeto para Juliana Monteiro, convidando-a a escrever algo. A Juliana é fotógrafa e escritora – além de professora – e escolhemos trabalhar com ela n’A Barca #3 pois percebemos a forte conexão dos assuntos que tratávamos na edição das imagens com aqueles desenvolvidos por ela em seus projetos pessoais. Os textos que ela nos apresentou são, portanto, respostas ao conjunto de nossas fotografias.

Mas há outras razões para que as palavras da Juliana se encaixem tão bem entre nossas imagens. Com as fotografias, propomos uma narrativa aberta, que coloca ao espectador questionamentos sobre as pulsões de vida e morte. As reflexões estão relacionadas ao espaço e ao tempo em que vivemos, mas não tratam de alguma situação específica, ao contrário, elas dizem respeito à condição humana. Os textos da Juliana acompanham essa narrativa tanto na forma como no conteúdo. (Em breve a publicação começará a ser distribuída e vocês poderão nos dizer se concordam!)

Quando já tínhamos praticamente fechado o projeto, Ricardo Almeida Prado, um dos autores d’A Barca, propôs a inserção da transcrição do poema concreto “O Pulsar” (1975), de Augusto de Campos. O poema é um chamado – “Abra a janela e veja” – e sugere a tentativa de comunicação por meio de algo distante, inapreensível: o pulsar das estrelas, do universo. O latejo que rege cada um de nós. Decidimos colocá-lo no início da sequência de imagens.

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Helena Rios e Marcelo Greco